câmbio, câmbio, testando...
então, gente, faz tempo que eu não uso blogs, de modo que hoje tem coisas que eu não me lembro como fazer, outras que nunca soube, muita coisa pra dizer e enfim, bora que o post é longo...
como falei em sala na última quinta-feira, duas lembranças me ocorreram ao vivenciar o poema-algaravia declamado (é interessante porque a sensação é essa mesmo, de um poema só composto da soma ou sobreposição de vozes, versos e corpos).
a primeira lembrança foi de uma música do Wanderley Monteiro, "Por um triz". sua letra se bifurca num dado momento e ao mesmo tempo se enovela, se encontrando e desencontrando e reencontrando tal como uma metáfora do próprio tema central do poema. linda, linda!! e a voz da Iracema Monteiro, mulher dele, é simplesmente sensacional!!
aí vai a letra e o vídeo.
Por um triz
Wanderley Monteiro
O que esperei já foi demais da conta
Bem cedo aqui cheguei
E você me apronta
Imaginei, oh! quanta ilusão
Abrir meu coração
Viver em emoção
Mas, o ponteiro já correu }
Mais um vazio em mim se deu } 2x
E sem mais nada a fazer }
Restou te esquecer }
Aqui estou (a reluzir)
Onde você marcou (a emoção)
Foi do lado de cá (me distraiu)
Faltou o seu olhar (mas, não secou)
Para me embalar (o sentimento)
Fazer pulsar o coração (e me envolveu)
E assim, iniciar (um grande momento)
Uma linda união
Já que me viu (feliz estou)
Por que você não vem (a esperar)
É tudo que eu quis (o seu olhar)
Vai me fazer tão bem (o seu amor)
E se for por um triz (não vai passar)
Não há tempo pra pensar (me abraça e diz)
O amor vai começar } 2x
Num desencontro com final feliz }
MASHUP
também me lembrei de um mashup do nirvana com o funk da atoladinha. engraçado que na minha cabeça as músicas eram também meramente sobrepostas, o que não é o caso, havendo um nítido e óbvio trabalho de mixagem.
engraçado também, ou nem tanto, é que eu me senti impelido a escrever algo no sentido de defender a beleza da obra, no sentido judiciário mesmo de defesa. sem dúvida por ser um funk. é foda isso, né, sempre que se fala de funk parece que é necessário fazer uma explanação de defesa, como se essa manifestação cultural poderosíssima e de incontestável traquejo tupiniquim fosse culpada de alguma coisa.
bom, mas como adoro pecar, a moral não é meu forte, não sou advogado, nem acho que cabe defesa aqui, posto o texto que meu amigo Fred Coelho postou junto com o link no facebook:
"O Mashup é o suprassumo do pop contemporâneo. O remix foi um primeiro passo na desconstrução do pop, mas ainda estávamos "mudando por dentro" a mesma música. O sampler foi o segundo passo, inserindo uma musica na outra, ampliando as combinações, transformando a discoteca em repertório universal. Os Mashups, por sua vez, são o auge, onde não há mais "uma música na outra". Há apenas uma música sendo muitas outras simultaneamente. Combinar os títulos, borrar o centro autoral, produzir ruídos e destruir qualquer fronteira do jardim da razão é a função do mashup. Que só cresce em qualidade e invenção nas nossas praias de algas verdes e semanas infinitas de canícula".
e aí vai o link do soundcloud, já que não achei no youtube:
https://soundcloud.com/clauspupp/atoladinha-like-teen-spirit
POESIA
pra fechar, como meu ascendente é Leão e dizem por aí de vez em quando que sabem que é certo que tem quase certeza que sou filho de Xangô, sou vaidoso que só vendo, admito. e como além disso não sou advogado mas sou poeta, posto ainda dois poemas que me ocorreram enquanto escrevia aqui. eu costumo falar poesia por aí e esses dois poemas (devaneios III e VIII), por não terem, a meu ver, potência oral pra serem declamados, ficam meio esquecidos em meio ao rebuliço dos irmãos mais bonitos, extrovertidos e agitados. aproveito então pra deixá-los passear um pouquinho por essas bandas virtuais...
beijos e BOM CARNAVAL!!!!
III
confesso
declaro
que o excesso de trabalho está minando
minha potencialidade natural
de vagabundear
vagabundeio
numa expressão caseira de resistência
resisto
numa inércia ressaqueada
não quero mudar o mundo
nem alterar paradigmas
muito menos dar exemplo
quero só isso mesmo:
ficar quietinho
e encontrar tempo
pra escrever besteira.
VIII
o tempo é curto
não há tempo
não há tempo e nada
faz sentido
nada faz sentido e o tempo é curto
não há tempo para dar sentido
nisso tudo que acontece
no pouco tempo em que estou vivo
o tempo é curto
não há tempo
não há tempo e nada
faz sentido
nada faz sentido e o tempo é curto
não há tempo para dar sentido
nisso tudo que acontece
no pouco tempo em que estou vivo
e permaneço inerte
o tempo é curto
não há tempo
não há tempo
nada faz sentido
nada
faz sentido e o tempo
é curto
-- não há tempo para dar sentido nisso tudo que acontece no pouco tempo em que estou vivo e permaneço
inerte.
Blog colaborativo da disciplina de pós-graduação e extensão "Corpo, Arte e Clínica", ministrada pela prof. Mônica Alvim, no Instituto de Psicologia, da UFRJ. O objetivo do blog é ter um espaço onde os participantes possam compartilhar ressonâncias: poemas, textos, livros, ideias ou qualquer outra coisa que tenha surgido durante as aulas ou na leitura dos textos.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014
UM ENSAIO SOBRE O CORPO
Trechos do livro Por exemplo a cadeira - ensaio sobre as artes do corpo, de Antonio Pinto Ribeiro (Lisboa-Portugal)
"Um corpo não é uma entidade abstrata, um receptáculo onde se podem colocar atributos tais como alto, baixo, forte, magro; não é uma esfera a que se circunscreve o ser num determinado tempo, mas é uma energia, onde se inscrevem circulações, substâncias, forças, pigmentações, comportamentos resultantes de treinos, de técnicas e de linguagens a que está permanentemente sujeito. Esta é uma constatação essencial e uma alteração radical no modo de colocar o problema do corpo no final deste século [XX].
A par desta constatação, uma outra: a de que não existe um corpo padrão, mas existem corpos (...), corpos nos quais é possível detectar diferenças de funcionamento e de comportamento, às vezes radicais. É por isso que se pode afirmar a existências de corpos multiculturais fracionados por diferenças que provocam tensões. É por isso que os corpos 'Benetton', aplanados nas suas diferenças pelo design publicitário, numa permanente e apagada inexpressão, são uma falsidade."
Mas o percurso de assunção desta diversidade e as expectativas que hoje estes corpos e a sua produção geram têm história, recente, que corresponde à história de uma queda: do corpo abstrato e desmaterializado ao corpo físico, energético e corporal (...)
Existe uma arqueologia desta descida, enquadrada, aliás, na nova paisagem urbana do final do século passado [XIX]: os novos espaços - a escola, a prisão, as avenidas, os passeios públicos -; os novos trabalhos - os mineiros, os operários, os professores -; as novas práticas corporais, os novos vestuários e os novos materiais. A Literatura deu disso testemunho: Viagem ao centro da Terra de Júlio Verne e Alice no País das Maravilhas de Lewis Carroll foram expressão dos novos imaginários desta descida.
Na Ciência, por seu lado, as primeiras radiografias inventadas por Rontgen não só expressam a vontade de mergulhar até o interior do corpo, 'à procura da alma' (...).
(...) o fato - hoje aparentemente banal - de Isadora Duncan, coreógrafa e bailarina, dançar descalça não só quis expressar uma ideia de liberdade corporal, mas, mais que isso, significa a abdicação secular da elevação pelo corpo ou o ter como ambição máxima o elevar-se, tornar-se aéreo, desincorporar-se.
Com Isadora, o corpo iniciava a sua descida à terra, ao humano, inclusivamente ao corpo étnico e sexualizado, como o reforçou, de imediato, Nijinski, coreógrafo e bailarino dos Ballets Russes (...)
Há objetos que, embora funcionando como adereços ou cenários, adquirem, pelo recurso a que são sujeitos, valores de metáfora denotativos deste percurso. É assim que se podem ver as escadas e os elementos descendentes sempre presentes nas obras de Meyerhold e de Martha Graham, embora já consubstanciados esta ideia da descida dos problemas das arte para o reino do humano, e que são posteriormente reforçados com a introdução de um objeto que se torna uma presença permanente e classificadora das Artes do Corpo depois do pós-guerra. Trata-se da cadeira como objeto pertença da dança, do teatro e da performance.
As cadeiras não são todas iguais, não assumirão todas as mesmas funções simbólicas e cênicas, mas constituem uma presença metafórica indicativa da relação das Artes com o seu tempo (...)
No entanto, a cadeira funciona principalmente, na lógica destas artes modernas e contemporâneas, como um 'ready made' que transporta para a cena a nostalgia do tempo da reflexão, do ócio criativo e da família ou dos rituais à volta da mesa, da comunidade, bem como a 'coisificação' da energia (...)
A cadeira toma assim o espaço do ancoradouro para onde converge toda a atividade humana enquanto espera, aguarda, porque uma época - a da Arte Modernista - de atividade se seguiu uma época de estaticismo.
(...) essa é a grande metáfora do uso da cadeira. Existe uma retração da atividade motora as artes do corpo, sinal de uma contenção de energia. Recorre-se à presença da cadeira para descansar, mas este recurso significa porventura a criação de uma 'époché' a figura fenomenológica pela qual o conhecimento é suspenso por um tempo, possibilitando uma ação futura."
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014
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